ESTUDO 22

Pergunta 27: Em que consistiu a humilhação de Cristo? 

Resposta: A humilhação de Cristo consistiu nele tendo nascido, e isto em uma condição humilde1, sob a lei2, sofrendo as misérias desta vida3, sob a ira de Deus4, e a morte amaldiçoada da cruz5, sendo enterrado6, e permanecendo sob o poder de morte por um tempo7.

1. e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lucas 2:7). 

2. vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei (Gálatas 4:4). 

3. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso (Isaías 53:3). 

4. Jesus disse: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27:46).  

5. a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (Filipenses 2:8).  

6. e que foi sepultado (I Coríntios 15:4). 

7. e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (I Coríntios 15:4). 

A pergunta desta lição trata de vários assuntos que nós já consideramos. Mas há uma boa razão para ver estes assuntos em conjunto, porque nós precisamos perceber que nosso Senhor se humilhou excessivamente para nossa salvação. Aqui nós vemos os passos pelos quais nosso Salvador “se humilhou infinitamente” por nós:

(1)  Foi uma coisa espantosa Deus vir a este mundo em uma natureza humana. C.S. Lewis disse que isto foi como um pastor se transformando em um cordeiro para ser sacrificado para salvar o resto do rebanho. Pense no que significaria para um ser humano se rebaixar a tal posição. Mesmo assim Cristo se rebaixou até mais para nos salvar. Isto é verdade porque há uma diferença muito maior entre Deus e o homem, em comparação com a diferença entre o homem e os animais.

(2)  Precisamos nos lembrar que quando Cristo se tornou homem, Ele não veio ocupar a melhor e mais alta posição entre os homens. Ele não nasceu no palácio de um rei. Ele não teve riqueza e posição social entre homens. Maria e José (que era para Ele como um pai humano) não eram pessoas ricas, e eles estavam vivendo em tempos difíceis quando os soldados romanos ocupavam o país deles.

(3) Embora nosso Senhor Jesus Cristo, sendo Deus, foi quem nos deu a Lei, ou, em outras palavras, o que estava acima da lei que Ele havia dado, quando Ele se tornou homem Ele próprio submeteu-se àquela lei. Quando Ele se tornou homem, foi o Seu dever obedecer perfeitamente as ordens de Deus, da mesma maneira que é o dever de todos os outros homens. E nós temos que lembrar que Ele também foi tentado em todas as áreas, da mesma maneira que nós somos, e que Ele morou em um mundo repleto de tentações. E estranho como possa parecer, foi algo terrivelmente difícil para Ele obedecer todos os mandamentos de Deus continuamente.

(4) A Bíblia nos fala que Jesus experimentou a miséria que nós experimentamos (com exceção da miséria de se sentir culpado quando nós fazemos alguma coisa errada). Ele conheceu fome, dor, tristeza e pobreza. Ele soube o que significa ser injustamente odiado e ridicularizado. O profeta Isaías disse: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido” (Isaías 53:4). Em outras palavras, Ele sujeitou-se a todas as conseqüências da queda do homem, exceto que Ele era sem pecado.

(5) Este sofrimento veio a se completar quando Jesus sofreu as conseqüências plenas do pecado se tornando objeto da ira de Deus. Quando Jesus clamou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Marcos 15:34), Ele estava realmente experimentando o mesmo tipo de castigo que os perdidos irão experimentar no dia do julgamento. Então aqueles que não têm Cristo como Salvador serão expulsos da presença de Deus, e serão lançados “para fora, nas trevas” (Mateus 22:13). Lá haverá “choro e ranger de dentes” (Mateus 25:30). Mas “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)” (Gálatas 3:13).

(6) Cristo pagou a penalidade por completo pelo pecado quando Ele morreu a morte cruel da cruz. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Coríntios 5:21). E Cristo permaneceu sujeito ao poder da morte por um tempo, da mesma maneira que todos os cristãos que compartilham os benefícios da Sua morte.

Nós devemos perceber que nosso Senhor fez isto voluntariamente. Quando nós nascemos neste mundo, não é porque nós escolhemos nascer. Nós não escolhemos quando, ou onde, ou a que pais nós nascemos. Mas com Jesus foi diferente, pois muito tempo antes do nascimento dEle, Ele falou (através dos Seus profetas), prometendo que Ele viria. “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Isaías 7:14). Assim, Ele certamente escolheu quando, onde e como Ele nasceria. E esta é a razão pela qual nós temos que falar sobre a Sua grande “humilhação”. O Apóstolo Paulo diz: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8).

Quando Paulo diz que Cristo subsistia “em forma de Deus”, ele simplesmente quer dizer que Cristo era “o mesmo em substância” com o Pai e o Espírito Santo, e “igual em poder e glória”. Em outras palavras, Jesus era Deus, e portanto não foi nenhum roubo Ele reivindicar igualdade com Deus, porque não há nenhum roubo envolvido ao se reivindicar algo que já pertence a uma pessoa. Mas Cristo ignorou esta verdade, pois Ele estava bastante atento à necessidade absoluta do Seu povo eleito. E assim Ele deu início à Sua grande humilhação.

Porém, é necessário deixar claro que quando Jesus se tornou homem, Ele não deixou de ser Deus. Em seu estado de humilhação, Ele não deixou de ser “o mesmo em substância” e igual “em poder e glória” ao Pai e ao Espírito Santo. Alguns erraram seriamente ensinando uma visão errada, chamada de kenosis. A palavra grega kenosis é encontrada em Filipenses 2:7, e é traduzida como “se esvaziou”. E estes interpretam este versículo dizendo que Jesus se esvaziou dos Seus atributos divinos. Eles dizem que, ao se tornar homem, Jesus abandonou a Sua natureza divina, ou pelo menos os Seus poderes divinos. Nós poderíamos dizer que, de acordo com esta falsa interpretação, a humilhação de Cristo significou a subtração da Sua divindade.

Mas a verdadeira visão é que a humilhação de Cristo não consistiu no fato que a Sua natureza divina, ou atributos, foi subtraída dEle, mas no fato que uma verdadeira natureza humana foi acrescentada a Ele. Há várias razões para que esta falsa doutrina de kenosis deve ser rejeitada: (l) porque sugeriria a idéia de que a natureza divina de Cristo era mutável. Mas Deus é imutável: “também, qual manto, os enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão fim” (Hebreus 1:12). (2) porque a Bíblia ensina claramente que Jesus era Deus até mesmo no seu estado de humilhação: “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35). (3) porque ela não resolve o “mistério” da encarnação. Nós não podemos entender o fato absolutamente espantoso que a segunda pessoa da Trindade, sem qualquer redução dos Seus atributos divinos, se tornou um homem real. Mas a doutrina da kenosis não ajuda explicar esse mistério, e sim o torna mais ininteligível.

Enquanto a humilhação do nosso Senhor não envolveu qualquer subtração de Sua divindade, ela envolveu o que talvez possamos chamar de “ocultação” da divindade, durante algum tempo. Na Bíblia encontramos o relato de que muitas pessoas que viram Jesus não perceberam que Ele era Deus. Além disso, Jesus não manifestou o Seu poder e glória divinos até Ele iniciar o Seu ministério público como o Messias. João disse: “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (João 2:11). Foi somente quando o nosso Senhor fazia tais obras poderosas que os homens podiam ver a Sua glória: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1:14). Os milagres de Jesus foram uma demonstração do fato que Ele tinha os atributos da divindade no sentido mais elevado. Mesmo assim, a Bíblia parece permitir o fato que a natureza divina de Cristo foi obscurecida (durante o período em que Ele esteve na Terra, durante a Sua humilhação). Jesus disse: “Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir” (Mateus 12:31,32). Como Jesus é Deus, da mesma maneira que o Espírito Santo é Deus, deve haver uma razão pela qual a misericórdia de Deus é tal que a blasfêmia contra Jesus pode ser perdoada, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não é perdoável. Nós acreditamos que o que esclarece esta diferença é o fato que Jesus não somente é Deus, mas também homem. E, como a Sua natureza divina foi ocultada (por assim dizer), durante o tempo da Sua humilhação, esta deve ser a razão pela qual a blasfêmia contra Ele, mesmo sendo terrível, era perdoável.

Alguém expressou o mistério da humilhação de Cristo nas seguintes palavras, com as quais nós concluímos nossa discussão sobre este assunto importante: “Permanecendo como Ele era, Ele se tornou o que Ele não era”. Aquele que entende (e se lembra) desta frase saberá evitar a maioria dos erros que surgiram na história da Igreja referentes à humilhação de Jesus.

 

Perguntas:

1. Por que este estudo repete o que (em parte) foi dito antes?

2. Depois de ler esta lição, escreva uma frase curta para cada um dos seis passos na humilhação de Cristo.

3. Com o que C.S. Lewis compara a vinda de Cristo em uma natureza humana?

4. Por que foi uma humilhação para Cristo vir “sob a lei”?

5. Quais foram algumas das misérias que Cristo experimentou?

6. A experiência de Cristo da ira de Deus poderia ser comparada com o quê?

7. O que significa “subsistindo em forma de Deus” (Filipenses 2:6)?

8. Por que não foi “roubo” para Cristo reivindicar igualdade com Deus?

9. Qual o erro da teoria da chamada “kenosis”?

10. Que razões podem ser dadas para provar que a teoria da kenosis é errada?

11. Cristo manifestou a sua natureza divina durante o tempo da Sua humilhação na Terra? Explique.

12. Todas as blasfêmias são erradas? O que é blasfêmia?

13. Por que uma blasfêmia contra Jesus Cristo é perdoável?

 

Fonte: G.I. Williamson, O Catecismo Menor, Vol.1, Presbyterian and Reformed Publishing Co., E.U.A.